segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Madrugada fria


"...Se o seu lábio afagar a minha fronte

- Tão fervido vulcão!

E murmurar baixinho ao meu ouvido

As falas da paixão;

(...)

Talvez que eu encontrasse as alegrias

Dos tempos que lá vão,

E afogasse na luz da nova aurora

A dor do coração!"

(...)

Horas tristes - Casimiro de Abreu




Fazia frio naquele dia. Pingos grossos de chuva caíam do céu, talvez as nuvens também chorassem comungando a dor de Antônia. A sala estava repleta de pessoas que solidariamente estiveram presentes durante toda a madrugada fria. Alguns relembravam o passado, a vivacidade do falecido, amante da vida, de alma alegre, amigo de todas as horas, as festas em que o mesmo apresentava-se, exímio dançarino de samba de coco. De outro canto, o choro incontido, a dor da perda de uma pessoa tão querida. No ar o desespero daquelas pobres crianças que fatalmente perdera um pai tão cedo.

Antônia estava ali, o coração combalido, tristonho, mas sabia que precisava ser forte, a fortaleza dos seus filhos, mantinha-se então firme, atenta a tudo. Quando estivesse só poderia debulhar-se em lágrimas, dar vazão a sua dor... Sim precisava ser forte! A vida não seria nada fácil dali em diante, criar sete filhos, inda pequenos, seria uma tarefa um tanto árdua para uma jovem mulher, mas ela não tinha medo, a presença de Deus era constante no seu viver. Era uma mulher de fé. Já convivera com tantas perdas, o falecimento de sua amada mãe quando tinha apenas dez anos de idade e depois a morte de seu pai ainda na puberdade. Ficara órfã, mas não órfã de Deus, Ele sempre embalava seu sono e segurava sua mão.

– Pobre querido, amado meu. Chorava silenciosamente Antônia. Sentiria falta das noites quentes de verão, do seu tórax rente à sua pele a aquecê-la em dias de chuva. Das confidências, das trocas de olhares, da cumplicidade que os entrelaçava... Sentiria falta até das dificuldades enfrentadas juntos... Lembranças, lembranças... Agora a cama estava vazia, só o estampido do silêncio no quarto, sim o silêncio gritava. Estava assim, perdida em pensamentos quando fora anunciada a partida, a hora do cortejo final.

– Jaz meu amor, mas em meu coração o guardarei eternamente, entrego-te nos braços de Deus!


Angella Reis

5 comentários:

Val Cruz disse...

Tocante história e lindo poema.

Beijokas no coração. Estava com saudades de tua companhia.

Artes e escritas disse...

Esse é um momento ao qual cada um sente à sua maneira a tristeza do adeus. Um abraço, Yayá.

chica disse...

Hora triste, tão bem retratada aqui...Lindo! beijos,chica

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Que lindo poema!
E este é o momento mais triste pelo qual temos que enfrentar e que ninguém escapa, mesmo sabendo que um dia o Pai nos resgatará para junto dele; é triste dar adeus.
Angella, um beijão... uma ótima semana e fique com Deus!
Obrigada pela sua visita.
Mariangela

IlkaSouza disse...

Senti a dor em cada linha!
Parabéns, você escreve muito bem!

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