sábado, 29 de outubro de 2011

Carta a um(a) amigo(a)



Meu coração não está tranqüilo, não sei, é como se você estivesse passando por uma fase complicada, meio conflitante, sob pressão, com alguns momentos de angústia, e o que a gente pode fazer por um amigo, por alguém que a gente tanta ama nessas horas? Rezar é uma boa, não é? Mas não basta que a gente espere que as coisas caiam do céu e que tudo se resolva como num milagre, ou num passe de mágica. Deus disse: "faz que te ajudarei!".


É preciso fazer algo, e esse algo que queria fazer por você, segurar a mão, abraçar, dizer e mostrar o quanto é importante é também uma boa não é? Deixam-nos leves quando acariciados por esse aconchego amigo. Mas depois de um momento o poder anestesiante de um abraço amigo passa e aí retorna aquela mesma situação que ainda não fora resolvida.

Então é isso, luz da minha vida, eu queria não só rezar por você, segurar sua mão, mas poder ajudá-lo em todas as suas conquistas, aliviar e alegrar o seu coração. Vê-lo feliz, eternamente feliz, pois, quando a gente gosta muito de alguém não é isso que se deseja? O bem, somente o bem. Diga-me o que posso fazer? Afinal a união faz a força, ou em outras palavras uma andorinha só não faz verão. Bom, mas espero sinceramente que esteja tudo bem, que essa intranqüilidade do meu coração, seja apenas saudades de quem se ama e quer bem.


(Angella Reis)



“Deitava todas as noites tendo a certeza que ao amanhecer o novo estaria à sua espera” (Angella Reis)


"Nunca devemos esquecer quem amamos" (Do filme sempre a seu lado)


"Pôs-se a olhar a paisagem que se descortinava no horizonte e suspirou: maravilhada pela beleza da natureza, entediada com a situação presente e ansiosa pelo que estava por vir, por sua chegada. Queria que os nãos da vida pudessem se tornar sim como num sonho. Muita coisa assim mudaria, mas o sim sempre também não é bom, ele acarreta mudanças que nem sempre são harmônicas" (Angella Reis)


"Vivo a vida no seu elemento mais puro. Tão em contato estou com o inefável. Respiro profundamente Deus. E vivo muitas vidas" (Clarice Lispector)


"Por longas horas eu tive em minhas mãos uma folha em branco. E talvez fosse assim que ela devesse ficar, em branco! O silêncio às vezes fala por si. Mas como compreender o silêncio vazio de linhas? Um aceno, um adeus mudo? Penso que às vezes é melhor não dizer nada, que por falar eu te perderia, mas se não falar eu me perderia, e por perder-me perco a razão de ser, de existir." (Angella Reis)


"Às vezes precisamos viajar. Não digo conhecer outros lugares, isso também é bom, refiro-me ao nosso território interno. É preciso mergulhar, descobrir cada lugar, o recôndito mais profundo. É que não devemos nos perder de vista, nossos olhos têm sempre que nos acompanhar, ver onde estamos e o que fazemos" (Angella Reis)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Amar é...




Folheando algumas páginas da memória encontrei estas delicadas figurinhas “Amar é” que marcaram meus exatos sete anos de idade. A cada cartãozinho que colecionava descobria que amar é era tanta coisa, então refletia: ’como poderia caber tanto dentro do peito? Amar é, amar é...’ E por si mesma descobri que amar é um contentamento natural que fazia acelerar e aquecer o coração. Mas também era um transbordamento de alegrias como quando se coloca água demasiado num copo e ele começa a derramar pelas bordas. No entanto, as águas põem-se a flutuar como se ganhassem um par de asas. Preenchimento que inspira levezas. E aí compreendi que amar é um tanto contraditório, cheio e leve ao mesmo tempo.

Minha primeira paixão foi pelos livros, todos os dias ansiava por vê-los, e assim, diariamente ia ter com eles na biblioteca municipal. Adorava sentir o cheiro e ficava maravilhada ao observá-los naquelas estantes negras. Caminhava vagarosamente e tocava-os um a um antes de iniciar o ritual da leitura. Eu os namorava. A gente ia se conhecendo aos pouquinhos sem muita pressa. Meu coração saltitava ao desvendar seus códigos secretos. A cada descoberta um mundo novo. De leitora virava personagem da história. Vez ou outra era a Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo, Iracema de José de Alencar, a Narizinho ou a Emília de Monteiro Lobato ou outro personagem fictício criado pelo meu imaginário que entrava no livro e mudava o rumo da história. E nessa época experimentei uma felicidade indescritível quando pude levar pela primeira vez um livro para casa. Dormimos abraçados. E aí entendi que Amar é também um chamego, querer estar sempre de mãos dadas com o objeto amado.

Mas primeiro amor, amor mesmo foi por meu vizinho de alfabeto. Eu era o A de amor e abraços, ele o B de belo e beijos. Gostava dele, sentia, o coração avisava descompassado. Àquele gostar ingênuo de menina de sete anos. Trocávamos figurinhas: Amar é... Ele furtivamente sempre as colocava no meu caderno. Eu fingia nada perceber. Não precisávamos dizer muito. Dizíamos tudo nos pequenos gestos e olhares mudos. Namorávamos apenas olhando-se, as pupilas tragavam-se (Não havia beijos, destes, eu fugia desesperadamente com a face afogueada e olhos arregalados ao correr de um menino ‘cabeludo’ que sempre ao ver-me ameaçava-me roubá-los. Este ficou conhecido como o ‘tarado da pracinha’).

Mais tarde dei-me por si que o B de belo também era B de besta ao vê-lo certo dia na hora do recreio juntamente com outros garotos igualmente bestas a impedir a passagem das meninas no corredor – posicionando uma das pernas estiradas ao chão – salvo se estas lhe ofertassem beijos. Então o A de azeda de raiva deu-lhe com o pequenino pé um beijo bicudo bem no meio da ‘canela’. E por fim deu-se conta que Amar também é um contentamento descontente e que de tão cheio às vezes pesava.


Angella Reis


beijinhos *--*


sábado, 22 de outubro de 2011

Páginas da memória



"De tudo um pouco fica guardado em nós, seja a lembrança inconsciente do primeiro choro, do primeiro olhar para o mundo, os sorrisos e abraços, os raios de sol a aquecer-nos o corpo, o brilho costumeiro que tanto nos seduz, o colorido da paisagem, o cheiro das flores que nos embriaga, de tantas, tantas coisas belas que palavras jamais conseguiriam descrever. O manto escuro da noite que nos envolve de mistérios enluarados, o prateado de estrelas piscantes como luzes do nosso pensamento que acendem, mas que também voam como o vento, fugidios que são como os dias, e, assim, serelepes nos escapam, advindo daí a premente vontade de resgatá-los em palavras, às vezes inteiras, às vezes metade, metamorfoseadas, explícitas ou implícitas na alma, tão cheias de vozes e silêncios que deveras não se consegue ler de tão profundos como o ser, o tudo e o nada.

Fica um pouco (ou muito) gravados em n
ós, de olhares e risos, sussurros, conversas, troca de informações, descobertas, um novo olhar para o mundo. Ao tempo que a gente se veste também vai se despindo, se moldando, criando, recriando e esculpindo a nossa matéria-bruta em arte. A arte de ser o que somos.

Do que me veste, me dispo, e (me) dôo, tudo o que me torna o que sou".


(Angella Reis)




“Posso ignorar meu coração? Eu gosto de você, eu te amo, isso não muda, faça sol, chuva, vento forte, tempestade. É como uma árvore criou raízes fundas dentro de mim. Os galhos atravessam, crescem para fora, me abrigam e eu me deito à sua sombra”

(Angella Reis)





“Sinto a seiva que lhe faz verde e experimento a inexperiência de ser
árvore”

(Angella Reis)





“Estava mais do que na hora de abrir as janelas e deixar o ar entrar, o sopro de vida!”


(Angella Reis)



"Sempre tive a mania de sorrir quando viajava em pensamentos. Minha mãe certa vez, após várias observações sobre episódios como esse, perguntou-me se eu conversava com alguém quando sorria assim. Ela pensava que eu falava com anjos, coisas de mãe. Bom, mais isso é outra história... E como viajava! acho que esse não é o tempo certo, a verdade é que viajo. Pego as asas da imaginação e vôo. Também adoro mergulhar, de cabeça mesmo. Então vôo, mergulho e pouso. E o que tudo isso provoca em mim, me fez recordar uma citação de Martha Medeiros “Viver tem que ser perturbador, é preciso que nossos anjos e demônios sejam despertados, e com eles sua raiva, seu orgulho, seu asco, sua adoração ou seu desprezo. O que não faz você mover um músculo, o que não faz você estremecer, suar, desatinar, não merece fazer parte da sua biografia”. E a isso eu chamo de mergulho profundo. E voar é sair por aí, viver, procurando a cena feliz ou tentando construir a cena feliz, e quando você se depara com alguém que vislumbrou há muito tempo, antes mesmo de conhecer, naquela sua cena feliz, aí que tudo acontece, teu imaginário materializado em corpo e alma"

(Angella Reis)

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Na beira do poço das sombras: moradores de rua



Recentemente assisti ao filme O Solista dirigido por Joe Wright e estrelado pelos atores Jamie Foxx (Nathaniel Ayers) e Robert Downey Jr (Steve Lopez) que narra à história de um morador de ruas/ex-prodígio da música clássica que toca violino nas ruas de Los Angeles. É um filme emocionante que nos faz pensar em todas as pessoas que vivem às margens da sociedade e que são tratados como lixo humano, seres das cidades das sombras, do submundo. Será que ao se deparar com alguém nesta situação já se questionaram quais foram as causas que o levou a esse estado de degradação ou simplesmente preferiu ignorá-lo: finjo que não estou vendo nada, afinal de contas porque tenho que dar importância a isso? Não é problema meu. Não sou eu que estou morando nas ruas e passando por toda sorte de provações; só não quero ter que cruzar com essas pessoas. Ao lado delas sinto-me em perigo constante porque convenhamos é complicado dar crédito a pessoa de aparência nada agradável e pouco confiável. Por isso pego atalho, corto caminho ou ainda pior: julgo, massacro e condeno porque é uma corja de vagabundos, desocupados, bêbados, drogados etc. que se estão nessa situação foi porque assim fizeram por merecer. Não é assim que o preconceito e a falta de humanidade proferem por aí?

Curioso como somos capazes de rotular. Eu vejo uma pedra, e aquilo para mim então é uma pedra, impossível ser qualquer outra coisa. Vemos somente aquilo que nossos olhos são capazes de enxergar, a fina camada da superfície. Impossível ver em seres que se escondem nas sombras a presença de luz. Caíram na escuridão e lá devem permanecer abandonados e banidos como se fossem cães sarnentos e ratos de esgoto, não há salvação. Eles proliferam e contaminam o ambiente. Tiram à beleza e a tranqüilidade das ruas, o sol se esconde, tudo é cinza. Então viramos a cara, fechamos os olhos porque a escória está ali. E se vierem bater à nossa porta ou não os atenderemos ou os olharemos de soslaio com a desconfiança premente de que temos algo a perder. Não é assim? Parafraseando Fábio de Melo: “Olha devagar para cada coisa. Aceita o desafio de ver o que a multidão não viu. Em cascalhos disformes e estranhos, diamantes sobrevivem solitários”. Não veja a margem, olhe dentro, mire fundo, é preciso ver, mergulhar, sentir. Olhe como quem olha uma criança que está aprendendo a andar; olhe como quem olha uma pessoa que se vê perdida na imensidão.

Nas ruas há labirintos infindáveis. Lá não vive sobrevive. No entanto, ainda que carreguem no peito inúmeras fragilidades trazem dentro de si uma imensa fortaleza. Porque é preciso coragem e ser muito forte para enfrentar o que os espera, pisar num poço sem fundo e não cair em desespero e mesmo que as agruras intensifiquem e afete a sanidade mental conseguem forças para continuar a seguir em frente. E essa coragem que vem não sei de onde, o que na verdade bem sabemos donde vem, não é a ausência do medo, é o medo inflado de força e vestido de coragem. Deus presente!

Muito dos que foram parar nas ruas não foi porque assim escolheram e não é preciso expor de forma precisa os diversos casos; vemos constantemente nos noticiários e deparamos com o quadro dia a dia. É que a vida dá rasteira mesmo quando não se envereda por caminhos tortuosos. Dá para enxergar agora? Olha calmamente...

O universo nos ensina que mesmo na escuridão há a presença de luz. E se cada pessoa acender uma vela por menor que seja aquecerá com o fogo do amor corações frios - desprovidos de afeto, de um amigo que os ajude a acalmar suas dores, a se erguer, a ser. E é essa a chama que alimentará de esperança e os manterá vivos e inteiros novamente e/ou pela primeira vez.

Foi isso que aprendi desde cedo,

que não importa que aparência uma pessoa tenha

ou quem ela seja

isso não o tornará menos ou mais importante

Aprendi que se deve amar alguém não pelo que tem,

por status ou pelo que representa

mas sim por quem é no seu interior

Aprendi que se deve estender a mão àquele que necessita

Porque um dia pode ser você

Que venha a precisar

Não importa qual ou em que ângulo

De necessidade

Aprendi também que não se deve deixar no escuro

Quem tem sede e urgência de luz

Que quando se dá as costas

Também se roubam sonhos

E joga o outro no mar da desesperança

Aprendi que loucos ao receber um prato de comida

Dividem e conversam com as flores

Porque elas lhe ofertam perfumes

Sem nada receber

Aprendi que um louco que vivenciou as ruas

Se recebe carinho e cuidados

Chama nosso pai de pai e nossa mãe de mãe

E os filhos do casal

protege como se fossem irmãos

Aprendi que se deve confiar

Mesmo quando reina no mundo

Inteira desconfiança

a falta de fé em Deus

E nos homens

E que todo mundo tem direito a uma segunda chance.

Que é preciso desprender do antigo

E vestir-se do novo.

Aprendi que se deve acreditar que é possível mudar,

Que o que aparenta não ser bonito

Pode trazer belezas imensuráveis por dentro

A Crer que um pequeno gesto pode salvar uma vida

Que quando várias pessoas se juntam a semear

fazem nascer em solo árido mudas de esperança

E que mesmo que você seja um só,

aquele pequeno ato fará a diferença.

É isso que o amor faz! Dá a capacidade de fazer brotar flores nos desertos da existência, e do ato de cultivar fará surgir oásis com fontes de curas bem maiores, e esta é a certeza plena de que aquele gesto humano de amor foi a melhor coisa a se fazer.

É preciso ter um olhar demorado sobre tudo, olhar como se fosse a primeira vez. Há beleza em cada mínima coisa, é possível ver e sentir quando se caminha de mãos dadas com a poesia.

Angella Reis



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