
É de praxe desejar encontrar a nossa cara metade, ou como se diz por aí, a metade da laranja. Embora sejamos inteiros, vez ou outra, sentimos como se tivesse faltando um pedaço, alguém que nos complete, ‘O encaixe perfeito’ (na medida das suas imperfeições). E aí nosso imaginário começa a voar e a gente passa a idealizar aquele cara (ou garota) do tal mundo onírico, mas o inesperado bate à porta e apresenta alguém que você jamais pensou conhecer e/ou gostar e se vê em meio a um turbilhão de emoções que te faz perceber: É Ele, aquele que faltava (ocorre, no entanto, que por ter a mulher uma imaginação fértil e aflorada muitas vezes imagina-se apaixonada, um tipo de ilusão de ótica ou de idiossincrasia, e é tão forte que acaba por acreditar nisso. É como se o homem transasse e engravidasse-lhe o pensamento e ela deixasse de pensar, só sentir, sentir, mais nada. Passado o transe e a mistura de sensações neuro-sexo-(i)lógicas, quando vai perceber não sentiu foi nada ou sentiu mais do que devia). Então, diante daquele achado não resisti e decide tê-lo ao seu lado sem se importar com possíveis defeitos e rezando por sua durabilidade. O efeito que a coisa provocou foi tão grande que não se preocupou em verificar se realmente era a tampa que faltava. Como saber? Como saber por onde anda aquela metade inteira que se encaixa perfeitamente em você (alma, corpo, coração) se temos a constante mania de se perder (oh, mas também é exercício de aprendizagem e que deveras não se aprende nunca), perdemos o prumo, perdemos o rumo.
Viajando pelo mundo das idéias e analisando racional, inteira e detidamente sobre metades que se completam, toda mulher deveria fazer um test driver antes de levar para casa seu possante, não para tomar conhecimento de direção (óbvio) e/ou manuseá-lo - isso é coisa que se aprende com o tempo, ainda que possa, algumas vezes, sair desgovernado – mas para medir o nível de confortabilidade: se tem o tamanho ideal para comportar todo o espaço e demais funcionalidades do produto. A falha na observação causará desconforto, desprazer, angústia, carência, raiva, sensação mórbida de que o problema está com você e demais neuras que varia de pessoa para pessoa, não necessariamente nessa ordem ou concomitantemente. Sem contar que pode gerar inúmeras dores de cabeça (ainda que presumivelmente inventadas), isso sem falar em possível dor real, daquelas que vem do útero, como se uma navalha cortasse-lhe as entranhas (como o efeito inverso do sapato). Isto porque a mulher também tem suas medidas o que denota que não tem essa de vantagem ou desvantagem em relação a tamanho como se propaga por aí, ainda que se afirme em possível elasticidade. Mas como a gente não vai sair por aí pegando e/ou provando tudo, isso é coisa que fica só no campo da imaginação (mas bem que se poderia antes de consumar a escolha e se meter em qualquer furada pedir para ver a documentação, tipo uma questão de segurança). Tá, longe de mim a banalização (bom seria maior preservação de ambos os sexos, sim ambos, não me venha com essa que neste aspecto somos desiguais, e, portanto, devemos ser tratados na medida de sua desigualdade), mesmo porque não é a coisa mais importante numa relação e creio haver possíveis maneiras de contornar a situação. Compensar os excessos ou a falta que só um abraço doce e quente Pode proporcionar em meio a afagos e carícias preliminarmente concedidas.
A verdade é que observando todas as coisas belas e dada a sua perfeição, a forma e harmonia como se inteiram, toda pessoa deve ter um par (de asas) perdido ou achado por aí nesse mundão de Meu Deus! Daí a gente espera, não espera, pega estrada, segue o curso, corta caminho ou roda como numa ciranda, muda o rumo, erra/acerta o passo e cruza com alguém que nos faz experimentar sensações até então desconhecidas porque vindas de um jeito novo. Que nos faz delirar, provocar uma sinergia, um descompasso em meio ao calor trêmulo dos passos, o desejo ardente de perde-se naquele abraço, embriagar-se de beijos, fundirem-se entreolhares e entregar-se com paixão. O novo, vestido de flores, sol e sorrisos, tecido de algodão bordado de carícias e coração. Doce como algodão-doce e leve, com a leveza que só as plumas tem. E mesmo banhado de chuva é como um beijo cítrico molhado que te aquece ao tempo que provoca arrepios. Deseja vesti-lo, sentir colado à pele o teu avesso, o vestido mais perfeito, e reza para que te caia bem, que te vista como uma luva, que se encaixe perfeitamente em você, na medida certa do/para o amor, sem mais.
Angella Reis