quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Do avesso




É estranho como alguns sonhos nos remete a situações aparentemente vivenciadas, não pela narrativa dos fatos, mas por não terem nexo, por não fazerem sentido. Tenho me perguntado por que entre a gente não há entendimento possível. Por que estamos sempre nos confrontando como se estivesse sob o efeito de uma provável cegueira, impedindo-o de ver com clareza as coisas ou se deixasse levar pela maledicência alheia, enveredado por tramas sórdidas, ou eu que não enxerguei de imediato à verdadeira face que o encobre.

Desculpe-me, mas é tão estranho parecer odiar e maltratar alguém que gosta tanto de ti, assim do nada, sem motivos e sem nenhuma razão lógica. Martelei a cabeça procurando entender, mas não consegui.

Sonhei contigo a noite passada, um sonho esquisito. Eu estava numa sala ampla dando uma palestra para jovens. Tinha muitas sacolas numa mesa, duas delas pesavam como chumbo, um buquê de rosas que eu havia ganhado num móvel ao canto da sala. Ao término da palestra ofereceu-me para ajudar. Eu estranhei, e perguntei você me ajuda? Mas fiquei grata e feliz. Olhei de soslaio aquele homem alto e gentil ao meu lado, como era logo no início. Tive uma imensa sensação de segurança. Ele era uma fortaleza. De repente, questionou-me por que eu havia convidado o sargento para ajudar-me com os apetrechos e disse-me que também sabia manusear uma arma. Pegou uma, calibre 38, encheu de balas e mostrou-me orgulhoso de si. Respondi que eu não o havia convidado, ele que tinha se oferecido. E seguimos caminhando lado a lado até minha residência. Chegando lá procurei o buquê de rosas vermelhas, em até certo desespero pelo grau de importância que tinha para mim. Retornei ao local para ver se não havia esquecido onde tinha colocado anteriormente até que encontrei na residência dentro de uma bolsa plástica, num vaso de lixo. De repente, o amor, a paixão avassaladora que senti tinha sido jogada ali. De repente, o homem gentil que fez meu coração transbordar de encantamento e carinho transformou-se num algoz, com arma em punho, orgulhoso de seu poder. De repente, tudo mudou. E nada, por mais que se queira, por mais que tente, seria novamente como antes.


_ Angella Reis

sexta-feira, 26 de outubro de 2012



No dia 02 deste mês meu pai amado veio a óbito. Dias depois de eu ter escrito o texto anterior "Atravessemos" onde digo que:  "A vida é uma passagem... Que ela não para. Ela segue, o tempo passa, e é da natureza ir em frente, não estacionar no tempo, porque nada é permanente, tudo é passageiro. Somos passageiros etéreos dentro do temporário. Que é preciso enfrentamento, não fugir, seguir adiante, estar preparado e sempre pronto para o próximo salto". Sofri, derramei minhas lágrimas, mas aceitei resignadamente. Não é fácil perder um ente querido, perder quem amamos, mas não podemos alterar àquilo que não pode ser modificado. Como já havia escrito: "Nem sempre saber lidar com perdas, mas elas sempre ocorrem como impulso natural da vida". Cabe-nos tão somente aceitar. Penso que a minha forma de olhar a vida, a minha fé, o amor que tenho dentro do peito e o fato de que ele já vinha enfrentando problemas de saúde me ajudaram a suportar a dor e encarar de forma serena as coisas. O que escrevo neste momento é apenas um comunicado, justificar o porquê de após meu retorno, depois de meses, tenha novamente necessitado de pausas.  

Meu abraço sincero a todos.




domingo, 30 de setembro de 2012

Atravessemos





De repente a gente acorda e decide dar um novo rumo à nossa vida. À busca daquele projeto tão sonhado e que fora alimentado há anos, aparentemente esquecido, ou adiado em razão de determinadas circunstâncias. Chega um momento que tudo parece fora de lugar, que não mais se encaixa, como se tivesse faltando um pedaço; ou se enquadra, como uma fotografia velha num ambiente arrojado. O tempo passa, o mundo se transforma. A gente muda ou sente a necessidade de mudança. Todo dia é novo. É a vida em movimento, nos pedindo abre alas. Então, a gente decide abandonar as roupas usadas, sentir outros ares, redescobrir-se, se vestir do novo que virá. E segue na contradança dos passos, engrenados por desejos, indo ao encontro de nós mesmos, em busca de respostas para nossas inquietações. É obvio que ninguém tem a fórmula certa, uma bússola que indique qual o melhor caminho ou a escolha perfeita. Talvez, tomar aquele percurso, pegar àquela estrada, não seja a decisão mais acertada, mas se não nos movermos nunca saberemos aonde chegar. Adentraremos tão somente no campo da imaginação, presos ao nada, aquém das realizações, frustrados por não termos a coragem suficiente para ir além.

Às vezes nos acovardamos... Tememos dar o primeiro passo para o desconhecido. É muito fácil e cômodo viver àquilo a que estamos habituados, sem os riscos, sem as mudanças que nos assustam. A palavra de ordem é travessia. Afinal, a vida é uma passagem, um bilhete premiado que nos permite viagens no tempo e no espaço. Um caminho, um trecho onde atravessaremos pontes, rios, mares; Percorreremos estradas e labirintos infindáveis. A vida não para. Ela segue, o tempo passa, e é da natureza ir em frente, não estacionar no tempo, porque nada é permanente, tudo é passageiro. Somos passageiros etéreos dentro do temporário. É preciso enfrentamento, não fugir, seguir adiante, estar preparado e sempre pronto para o próximo salto. Vencer o medo. Esse medo que nos paralisa, que nos impede de alçar voo, de viver a fundo, nos satisfazendo com a superfície, com o que é possível de ser alcançado.

Esteja aberto, deixe-se levar, conduzir em passos de (mu)danças, através delas nos trasladamos. Atravessemos.


Angella Reis



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012



"(...) toda pessoa deve ter um par (de asas) perdido ou achado por aí nesse mundão de Meu Deus! Daí a gente espera, não espera, pega estrada, segue o curso, corta caminho ou roda como numa ciranda, muda o rumo, erra/acerta o passo e cruza com alguém que nos faz experimentar sensações até então desconhecidas porque vindas de um jeito novo. Que nos faz delirar, provocar uma sinergia, um descompasso em meio ao calor trêmulo dos passos, o desejo ardente de perde-se naquele abraço, embriagar-se de beijos, fundirem-se entreolhares e entregar-se com paixão. O novo, vestido de flores, sol e sorrisos, tecido de algodão bordado de carícias e coração. (...) Deseja vesti-lo, sentir colado à pele o teu avesso, o vestido mais perfeito, e reza para que te caia bem, que te vista como uma luva, que se encaixe perfeitamente em você, na medida certa do/para o amor, sem mais" (Angella Reis)




"Parecia haver uma confluência de águas, por um momento, um instante que pareceu infinito nos segredamos um ao outro..."

(Angella Reis)


"E na tela viva nasce o poeta que pinta n'alma palavras coloridas - um traço de Deus"

(Angella Reis)



"Porventura, todos os caminhos por quais trilhamos estão traçados na palma das nossas mãos, e, quiçá, marcados nas calçadas invisíveis do espaço que se cruzam e por vezes se entrelaçam em tantas outras. Num emaranhado algumas dão nós, outras se tornam laços, feitos e desfeitos"

(Angella Reis)



"(...} a saudade é uma menina que brinca com o tempo. Ah! E como brinca, ri e chora ao mesmo tempo. O tempo às vezes briga com a saudade dizendo que tem que seguir em frente, mas a saudade sempre quer voltar - isso me faz recordar uma citação de Rubem Alves in O amor que acende a Lua: “A saudade é nossa alma dizendo para onde ela que voltar" -, mas o tempo não volta. É teimoso o tempo, ou teimosos somos nós?" (Angella Reis)


quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Flor dos Quereres – 2012




Ingressar num novo ano é como adentrar em outra dimensão de nós mesmos. A vida que se desdobra. A porta se abre e nos brinda com o raiar de um novo dia. Cores que já estamos acostumados a ver, mas brilham de um jeito especial, diferente, porque vistas com o olhar de quem olha o verde da vida, que vai nascendo, brotando, desabrochando em recomeço. Então, olhamos para trás e despedimo-nos do ontem, do sábado e todos os dias anteriores enquanto o hoje pacientemente nos espera com os amanhãs e todos os dias que virão [até quando não sabemos. Essa é uma das peças que compõe o mistério].

Abraçamos entre lágrimas e sorrisos os dias idos e guardamos os momentos numa caixinha de memórias, como a um relicário de doces lembranças. Há coisas, no entanto, que queremos livres, nos desprender, deixar que o vento leve para longe [se retornadas que venham suavizadas pela marca indelével do tempo] outras tantas desejamos ardentemente esquecer ou nunca tê-las vivido, ao menos se pode dizer é passado, ainda que, por vezes, sombras rondem a casa do coração deixando vestígios de sua passagem. Passado que se faz presente em recordações, insistem em reaparecer mesmo quando se soubera esquecidas, burilando quase sempre a mesma ferida. Não sabemos os porquês de certas coisas e muitas vezes nos afligimos, seja pela perda de um amor, um projeto que não deu certo, a doença que nos pegou de surpresa, a morte de um ente querido, enfim. Mas se nada ocorre por acaso, se tudo em uma razão de ser e de existir por que nos questionarmos tanto e buscarmos entender àquilo que no momento não é possível ser compreendido? Clarice tinha razão: “Não procure entender, viver ultrapassa todo e qualquer entendimento”. E talvez viver seja isso, não para ser passível de se fazer sentido, mas para ser sentida, então, eu sinto. Sinto pulsando em minhas artérias o mistério que é a vida. Ela própria se explica, com o tempo.

Não inculque com certas coisas, nem lamente determinados fatos, o que viveu ou o que deixou de viver. O que passou não pode ser alterado, mas a vida nos dá uma nova chance de continuar escrevendo a nossa história. E cabe a mim, a você abraçar e aproveitar o presente que nos é dado. É certo que não sabemos o que nos espera, por detrás das folhagens verdejantes há uma imensa floresta, mas vale a pena prosseguir, correr todos os riscos, desbravar a mata virgem e colher a flor dos dias que germina na terra. ‘Não tenha medo de viver a vida, tenha medo de não vivê-la’.

O domingo nos recebe com uma folha em branco festa, ano novo, vida que se renova, nua flor, flor dos quereres.

Faça a sua prece!


Angella Reis

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