quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Memórias da infância - Ser criança



“Quando eu era pequeno
Tudo ficava perto,
Pertinho para chegar ao céu
Bastava uma subidinha,
O sonho me alcançava
Para ir tão longe como queria,
Quando eu era pequeno
Eu sim podia
Eu sim podia” (Silvio Rodriguez)



Sábado de aleluia, casa cheia, familiares, amigos, crianças correndo pra lá e prá cá. A mesinha da sala de estar estava repleta de álbuns de fotografia, todos remomeravam o passado. Burburinho, algazarra, saudades de quem já se foi... E as crianças correm a brincar como se o tempo tivesse parado ali. Vivem como ninguém a intensidade do momento. Passo a observá-las. Quanta sabedoria há numa criança. Meu desejo é estar com elas, a criança que há em mim. Elas sim sabem viver. Os adultos deviam se espelhar nas crianças. Deviam ser como as crianças. O adulto quando discute, briga com alguém, geralmente não perdoa. A criança em sua mais tenra sabedoria se desentende com o coleguinha, no segundo seguinte esquece, e logo torna a brincar de novo, dar as mãos. Hoje,

já adulta, ainda sinto a criança em mim, talvez devido à minha sensibilidade, e como bem diz Rubem Alves: “Como os salmões, que deixam o mar e voltam às nascentes, os poetas desejam voltar às suas origens. É lá que mora a verdade que os adultos esqueceram. Fogem da loucura da vida adulta. Buscam reencontrar a simplicidade da infância. E no meu poema mãos dadas, eu busco um pouco disso, desse efeito que o ser criança nos causa...


“De mãos dadas
Corriam entre os campos
Com um sorriso de orelha a orelha
Subiram numa escada que dava para o infinito
Pousaram o ouvido nas nuvens
Saltitaram pelas estrelas
E voaram nas asas do vento
Suas risadas ecoavam por todo o canto
E enchiam de paz e ternura
O coração de todos os seres do universo”



E assim, ao observá-las, todas as memórias da minha infância me vêm à tona uma a uma... Quando eu era criança sempre sonhava que tinha uma nave espacial e que salvava as pessoas do mundo inteiro... Hoje, percebo que são as próprias pessoas que estão destruindo o planeta e a si mesmos. Eu poderia reavivar agora cada memória, de todas as brincadeiras da infância, da passagem pelo coral das crianças na igreja São Francisco de Assis, de todas as histórias... Mas inúmeras seriam as horas. Muita coisa nos marca na infância fica dentro de nós. Lembro de um rapaz que desmaiou na rua em que eu morava. Muitas pessoas se amontoaram ao redor, mas não tiveram coragem de se aproximar, alguns cochichavam “pode ser alguma doença, ou não sabemos de quem se trata”. Minha avó materna colocou a cabeça dele no colo, deu-lhe algo para cheirar e quando ele voltou a si, o fez bebericar um copo de leite. O desmaio dele era fome. Ele tinha fome de comida, esperança e solidariedade. Mas nesse dia ele encontrou. Ele estava de passagem, era de outro Estado e precisava ir ao encontro de sua mãe, mas não dispunha de recursos. Minha avó, minha mãe e algumas mulheres do bairro puseram-se a arrecadar uma quantia suficiente para que o mesmo viajasse sem maiores preocupações. Nesse dia, o viajante dormira em uma das casas de minha família na qual eu lecionava. Eu tinha onze anos, inda menina. No dia seguinte, fui encarregada de levar-lhe a refeição matinal. Ele estava desenhando na lousa, era JESUS. Meus olhos encheram-se de lágrimas. Ele olhou-me e disse: “Um dia vou voltar para agradecer”. Foi num ambiente assim que cresci. Pai, mãe, avós, irmãos, tios, primos, união, amor e preocupação com o próximo.

“Aquilo que os adultos esqueceram e que a sabedoria busca – as crianças sabem. Ser criança é ser sábio” (Rubem Alves)


Angella Reis

24 comentários:

Desnuda disse...

Querida amiga,

Que riqueza de post! Emociona do início ao fim. Na totalidade o post indica o caminho mais lindo do ser humano que adulto se esquece e que é nesta simplicidade que está a nossa verdadeira essência. Textos, poesias , belas lições e reflexões. Muito obrigada!

PS:. Gosto de ler tudo atentamente e me proporcionar momentos de prazer, beleza, aprendizado e ânimo como aqui no seu blog , mas fim de ano é corrido e tenho entrado pouco nos blogs e estes dias a minha conexão está lenta e caindo bastante.

Carinhoso beijo amiga linda ( por dentro e por fora).

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Lindo texto. Hoje mesmo vi lembrando de umas fases da minha infância. E é realmente lindo e enriquecedor ver como ter sido criança foi tão bom. E ficamos saudosos diante daquele tempo tão bom. Ser criança é ser sábio mesmo. Rubens acertou.

Apesar de ter crescido, eu acho que ainda mantenho muito do meu lado criança. E isto me faz ficar feliz sabe? Tem singeleza mesmo. A infância é tão fascinante que nos coloca num mundo de magia, cheio de possibilidades e sonhos possíveis. E mesmo quando crescemos, ela ainda se faz em nós, porque ao olharmos atrás, discernimos o quanto ela nos ensinou... O quanto foi enriquecedor ser infante. E o quanto ainda nos ensina.

Lindo!

► JOTA ENE ◄ disse...

ººº
Gostei da narrativa ....

Mariangela l. Vieira - "Vida", o meu maior presente. disse...

Angella, essa é a verdadeira herança que devemos sempre lutar e nos orgulhar; não se acaba, pelo contrário, produz frutos benéficos em nossa vida e na vida de quem amamos.
Linda postagem! Que retrata a simplicidade e a sabedoria das crianças; estas, que nunca deveríamos deixar de ser!
Parabéns! E obrigada por tudo!
Beijo
Mariangela

AquilesMarchel disse...

O desmaio dele era fome. Ele tinha fome de comida, esperança e solidariedade. Mas nesse dia ele encontrou. Ele estava de passagem, era de outro Estado e precisava ir ao encontro de sua mãe, mas não dispunha de recursos. Minha avó, minha mãe e algumas mulheres do bairro puseram-se a arrecadar uma quantia suficiente para que o mesmo viajasse sem maiores preocupações.









meu q texto emocionante
!!!!

Wanderly Frota disse...

Manter em nós a chama viva que existe no interior de uma criança, é fundamental. Lembro com carinho dos meus tempos de menina, ainda sou rs
Lindíssimas palavras Angella!
Encantada!

Danilo Henrique disse...

Oi.. estava olhando seu blog.. gostei.. faz uma vista rs no meu .. se gostar comenta.. http://pensamentosdovacuo.blogspot.com/ vlw

Luna Sanchez disse...

Que lindo, Angella!

Lembrei de "Bola de Meia, Bola de Gude", canção que adoro!

=)

Beijos.

By Me disse...

Querida Amiga assim não consigo ler...a cor da letra está praticamente apagada...:)))Pode ser ligeiramente mais escura?...:)))

Beijinho

ALUISIO CAVALCANTE JR disse...

Olá

O mais maravilhoso
de histórias vividas
assim,
é que elas
sobrevivem além
da vida...

Alegrias plenas
para ti,
e para o mundo.

Aksa Bandeira disse...

Olá Angela, muito bom enfim poder estar aqui e conhecer o seu cantinho que é bem aconchegante. Vim agradecer pela visita e palavras, seja sempre bem vinda no meu cantinho.

Bjus flor e que vc tenha um domingo abençoado***

Flor de Lótus disse...

Oi,Angela!Porque crescemos e nos perdemos, a gnete se perde da nossa essência, do que somos verdadeiramente, só que muitas vezes nos damos conta disso tardiamente.
Uma linda semana!
Beijosss

Thami Silva disse...

Querida Angella,
Estou um tanto ausente do Blog, mas fico muito feliz por estar visitando.
Em breve, terá novidades.
Bjos, ótima semana !

Smareis disse...

Lindo, terno encantador seu post. A infância é uma fase linda de tempos que guardar com muito carinho.
Beijos e ótima semana.

Lilá(s) disse...

Excelente texto! emocinante,encantador! desperta a criança que ainda há em nós.
Beijinhos

Anônimo disse...

Boa tarde, Angela.
O espelho do que viveste na infância revela a pessoa de coração florido e de ideias ao vento que tu te tornaste.
Parabéns!

Kelly disse...

Angela vim retribuir sua visita.
Adorei seu blog.
Um beijo!

Eduardo Cambuí Jr disse...

Oi, Angella!

Muito legal o seu texto! Mas, no final das contas, quem de nós deixa totalmente de ser criança? A diferença entre as pessoas está no quanto cada um esconde a sua criança interior... lembrei de um trecho do Pequeno Príncipe, onde o autor dizia o que era preciso pra ser considerado uma pessoa razoável pelos adultos (rs).
Bjo!

vanessa carvalho disse...

Bonito demais.

Benno disse...

desaprende-se muito ao se aprender, por isso é mandatório chegar o tempo de livrar-se da casca criada ao longo dos anos, desprender-se do conhecimento e enfim criar, coisa para o qual haviamos nascido e sabiamos, mas nos fizeram desaprender ao nos ensinar.

Unknown disse...

Olá!
Gostei muito do teu espaço, e estou segundo – te!

“ Pois o que realmente importa é a observação, sem ela o olhar perde a graça...”

Um abraço, Rafah – Blog Eternus!
http://eternizadoempalavras.blogspot.com/

Unknown disse...

A infância marca a existência de todos nós e nos dá vida quando adultos.

Linda a sua postagem.

ONG ALERTA disse...

Nos faz parar, refletir, a vida é mais simples que imaginamos, beijo Lisette.

Roselia Bezerra disse...

Olá, querida

" Das alturas orvalhem os céus,
E as nuvens que chovam justiça,
Que a terra se abra ao amor
E germine o Deus Salvador"...

Fico tão sem palavra para agradecer o carinho imensurável com que me cumula ao longo do ano que só posso lhe dizer que te amo fraternalmente...
Seja muito abençoada e feliz, amiga!!!
Bjm de paz e FELIZ NATAL... apesar de qualquer vestígio de dor em seu coraçãozinho....

"Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes,

e então saberás que eu me feri e também me curei."

Tagore

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails