Estava aqui a divagar as várias conotações do silêncio, as diversas sensações que nos provoca. E nesse exato momento encontro-me assim mergulhada no silêncio do meu quarto, nenhum ruído, só a fala dos meus pensamentos que jorram dentro de mim a espera que os resgatem em palavras. Que poder há numa singela palavra. Silêncio! Ausência de fala ou expressão de sentimento? Não quero ouvir; não quero falar; quero estar em mim, aqui no meu lugar; não sei o que dizer; é no silêncio que te falo; contemplação. Como se pode notar o silêncio não é só silêncio, ausência de fala, é expressão de sentimento, e indo mais longe é um expressar que não se expressa, ou um não querer expressar-se e por fim acabar expressando-se. Subtendido, mal ou bem interpretado.
O silêncio sente... O nosso sentir, o do outro e/ou o que normalmente nos provoca. O silêncio é acalanto, é pranto, é fala sem falas. É um estar em si, é um estar em nós. É um estar em nada, é o vazio perdido em palavras que foram ditas, mas nunca ditas. É suspiro, regozijo, imensidão, limitação, perdição de minha ou tua alma. Paixão que se cala, amor que não fala, falta de coragem, sensatez/insensatez, provocação.
Vê, o silêncio fala e cala. E como às vezes dói o silêncio, a procura de palavras que não vem; o som que não se consegue ouvir. São pensamentos intrínsecos, perdidos no vazio de outro vazio, que dão margem a várias interpretações (nessas várias interpretações o silêncio fala) e cala porque no fundo, no fundo mesmo, não sabemos o que pensar. Isso deixa-nos perdidos, às vezes até inseguros em tais momentos assim, sei lá... Era tão simples falar, dizer o que vem n'alma.
E nessa busca de palavras, bendito sejais o silêncio quando muitas vezes não foram ditas, porque assim pudera evitar um mal maior. Cuidado. Ponderação. Calar para não ferir. Calar para se preservar.
Bendito, ainda, sejais o silêncio, quando brota de olhares apaixonados. Doce e terno, nos faltam palavras para expressar de forma tão sublime a sua fala, sentimento. Deixa-se de ser vazio, torna-se preenchimento.
É também do silêncio que nasce o ouvir, não basta o silêncio de fora, urge o silêncio de dentro, ouvir e entender o que vai n’alma, do outro, da nossa. É no silêncio também que nos prostamos em oração, ficamos mudos, sem fala, submersos, como num mergulho no fundo do mar.
O silêncio é tempo, tempo de estar comigo, tempo de estar a sós. Tempo de estar com Deus!
Silêncio, silenciosamente falando, canto, encanto/desencanto... expressão/encontro/desencontro de almas. É um estar em mim, é um estar em vós. Sentir, ouvir, calar, falar, comungar.
Angela Reis
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